Homens e saúde mental: por que ainda é tabu?
- Gustavo Gabaldi
- há 5 minutos
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Nos últimos anos, falar sobre saúde mental tem se tornado cada vez mais comum. Mas quando olhamos especificamente para os homens, percebemos que ainda existe um grande tabu. Muitos resistem a procurar ajuda psicológica ou até a admitir que estão passando por dificuldades emocionais.
Por trás desse silêncio, há fatores culturais, sociais e até históricos que moldaram a forma como os homens lidam com suas emoções — e entender isso é o primeiro passo para quebrar o estigma.
O peso da cultura e da masculinidade tradicional
Desde a infância, meninos recebem mensagens como:
“Homem não chora.”
“Engole o choro.”
“Você tem que ser forte.”
“Sentir medo é coisa de covarde.”
Essas frases aparentemente inofensivas reforçam a ideia de que expressar vulnerabilidade é errado. Assim, cresce a noção de que o “homem ideal” deve ser invulnerável, racional e sempre no controle.
O problema é que a vida real não funciona assim. Todos sentimos tristeza, medo, insegurança e fragilidade em algum momento. Mas, quando o homem é condicionado a esconder esses sentimentos, ele pode desenvolver dificuldades para reconhecê-los e até para buscar ajuda quando precisa.
Como isso impacta a vida prática
Ignorar a saúde mental não é apenas “guardar as emoções”. Esse comportamento pode gerar consequências sérias:
No corpo: tensão muscular, pressão alta, insônia e outros sintomas físicos relacionados ao estresse.
No comportamento: explosões de raiva, irritabilidade, impulsividade ou tendência a se isolar.
Nos relacionamentos: dificuldade de se abrir emocionalmente, o que prejudica vínculos afetivos e pode gerar distanciamento da família e dos amigos.
Na saúde mental: risco aumentado de ansiedade, depressão, vícios (álcool, drogas, jogos) e até comportamentos autodestrutivos.
Estatísticas mostram um dado alarmante: os homens morrem mais por suicídio do que as mulheres. Um dos motivos é justamente a resistência em procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica, muitas vezes por medo do julgamento.
O papel da psicoterapia
A terapia é um espaço seguro onde os homens podem:
Reconhecer e compreender suas emoções.
Aprender a lidar com estresse, frustrações e inseguranças.
Melhorar a comunicação emocional em relacionamentos.
Quebrar padrões aprendidos ao longo da vida que já não fazem sentido.
E aqui é importante reforçar: procurar ajuda não diminui a masculinidade de ninguém. Pelo contrário, é um ato de responsabilidade consigo mesmo e com aqueles que fazem parte da vida do homem — parceiros, filhos, amigos e colegas de trabalho.
Caminhos para quebrar o tabu
A mudança não acontece de uma hora para outra, mas alguns passos podem ajudar:
Conversa aberta: falar sobre emoções em rodas de amigos, família ou no trabalho normaliza o tema.
Referências positivas: quando figuras públicas masculinas (atletas, artistas, líderes) falam sobre sua saúde mental, isso abre caminho para que outros se sintam à vontade.
Educação emocional desde cedo: ensinar meninos que chorar, sentir medo ou pedir ajuda é normal ajuda a formar adultos mais saudáveis emocionalmente.
Apoio de redes próximas: familiares e parceiros podem incentivar sem julgar, mostrando que procurar ajuda é um gesto de maturidade.
Homens também sofrem, também sentem medo, também têm crises — e tudo isso é humano. O tabu que envolve homens e saúde mental é fruto de estereótipos antigos que não combinam mais com o mundo atual.Cuidar da mente não é fraqueza. É, na verdade, um ato de coragem e autocuidado.
Quando um homem se permite falar sobre o que sente e buscar ajuda, ele não só melhora sua vida, mas também dá exemplo e abre espaço para que outros façam o mesmo. Porque, no fim das contas, força de verdade não é esconder sentimentos — é enfrentá-los.



